21.4.09

Arismar do Espírito Santo: uma cabeça de teflon!

Um dos maiores baixistas, bateristas, violonistas, compositor e arranjador: Arismar do Espírito Santo! Em 05/11/2003 Arismar deu um depoimento no I Congresso Brasileiro de Música Instrumental que se realizou no SESC Vila Mariana. 

Para além das desavenças que o congresso gerou entre músicos, as falas foram excepcionalmente ricas para entendermos um pouco do campo de produção desse gênero.

Entre os notáveis dessa mesa, Cláudio Celso ao lado de Arismar. Outros músicos acabaram não comparecendo por motivos alheios ao congresso. Entre debates e pocketshows, o público teve acesso a uma "vitrine de tensões". Neste depoimento Arismar anuncia sua trajetória e sua maneira veloz de pensar (e falar):

"Boa tarde, meu nome é Arismar, comecei a tocar em 74 como baterista, comecei a tocar com o Paulo Mamão na Baiúca, revezando com Moacir Peixoto, músico maravilhoso que deu uma subida, agora há pouco tempo subiu, Matias Matos, um movimento que existia na época de tocar o que hoje chamam de samba-bossa, era uma outra coisa, uma coisa séria assim de improviso e tocar as melodias e então eu comecei a cair nessa fria, com Zinho e com o Nenê Batera, até a gente estava conversando sobre isso daí outro dia, mudou a atitude dos bateristas, o batera harmônico, você toca, não tinha groove, não tinha nenhum nome assim, hoje em dia a música brasileira mudou muito, a bateria mudou muito, o som mudou muito por conta dessa coisa do músico lá, da idéia, (...) aí depois disso virei baixista, eu comecei a gostar de
contrabaixo, comecei a gostar de baixo acústico, o Renato Loyola me vendeu um baixo que ele tinha, aí uns 8 meses depois eu ataquei com o Luis Melo, que era assim o pianista mais punk de São Paulo era o Luis Melo, tocava muito, cada hora uma harmonia, a mão esquerda, até hoje ele não pára, e eu fiquei naquela loucura, essa usina me fez tocar, virar baixista, depois daí não parou mais, depois rolou, em oitenta e pouco, em 81 estourou um movimento instrumental em São Paulo, aí tinha o Pinicilina, tinha o Sanja, foram as primeiras vezes que eu vi o músico tocar música própria, não aquela coisa de cover, aquela cópia horrorosa, sabe aquela coisa louca, que era: você tem que ter um baixo daquela marca, tocar que nem não sei quem. Aí foi quando começou isso daí. Você também estava nessa onda né? Cláudio, Duda, milhões de músicos, Nico, Luis Melo, aí você chegava para tocar música sua, aquela coisa o músico começou a fazer, a mostrar a cara, mostrar música própria, ter coragem de fazer arranjo, ter coragem de dar o nome naquilo de arranjo, que às vezes o cara faz um rife depois fica com vergonha de dizer o que é (...) o músico começou a perder a vergonha aí, e começou a dar certo, aí não parou mais, hoje em dia a música brasileira é uma das músicas mais admiradas do planeta, você recebe e-mail da China de um cara querendo um baixo que nem o seu para tocar que nem você! É muito louco, você até estava ao contrário, você se mirava naquela coisa, parecia um monte de escoteiros, mas a idéia é tocar (...), daí eu não parei mais, tenho dois discos gravados, o primeiro pela Velas, dez anos depois eu lancei outro, a demora foi porque eu resolvi compor desse jeito, aí agora virei violonista, tenho gravado umas coisas de 7, está chovendo pro meu lado, (risos), estou estudando, sou vovô, tenho 3 filhos, [risos] (...) o Tiago está com 23, grande músico, esta tocando com todo mundo, e uma coisa que eu gosto muito de ver é que não tem preconceito, hoje toca com o Hermeto, amanhã com o Wando, depois de amanha com a Banda de Pífanos de Caruaru, aí compra um pandeiro, está tocando bateria, essa é uma geração bacana que está pintando e fazendo música, eles não tem preconceito, eles querem é tocar, chegar tocam 10, improvisam, são preparados, e é legal você ficar sacando que tem um pouco da teu dedo nesse bolo, faz bem saber que você está causando alguma coisa. Tem um grupo com a Silvia Góes, a Lea Freire, o Vinícius Dorin, o Cuca Teixeira, o Tiago e eu, a gente tem tocado com esse grupo, mais feliz impossível, faço música espontânea, na maioria das vezes eu procuro fazer isso, com esses músicos ou com outros músicos, tem um monte de músicos hoje em dia indo atrás dessa linguagem, e já deu 10 minutos? Não? Então, a história é essa, eu faço isso, e que mais? Estudo, eu acordo estudo, agora descolei um piano, estou tomando a maior surra, surra fantástica, o baixo, a bateria, o violão, não tem nada a ver com aquelas teclas ali, é outro assunto, aí você vai atrás de informação, que som de piano, como arma um repertório, bolar um, pra escrever arranjo é bacana, esta pintando uma coisa bacana assim, o resultado é rápido, fazem 2 meses que eu estou com o piano e já tenho duas músicas prontas, mais tem que ficar um monte, ontem eu fiquei umas 5 horas em cima, tem eu ficar até sair da cabeça isso é o baixo, aquele papo de terças, quartas, parece um calendário. Não! É música, tem que sair fora dessa coisa senão você não cria a música. (...) Eu estou estudando, aí
vem o músico por profissão, tem que tocar, tem que dar aula, tem que viajar, agora, tem que correr atrás, todo dia estudar para a cabeça ficar linda, a cabeça rola um teflon, tudo o que acontece de fora escorrega não pega, você fica tocando, minha vida está sendo essa. Então é isso, por ordem alfabética então, muito obrigado".

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