26.11.08

O M B pela contramão...

Muito boa a matéria escrita por Pedro Alexandre Sanches e publicada na Revista Carta Capital, 521, de 12 de novembro de 2008. Esse é um assunto que merece ser divulgado. Ainda essa semana fui numa apresentação de músicos amigos meus e comentei sobre essa situação na Ordem dos Músicos do Brasil e, para a minha surpresa, absolutamente ninguem tinha conhecimento do que estava acontecendo. Acho que já é hora de mudar essa situação porque para quem tem más intenções, músico bom é músico despolitizado!

A matéria intitula-se "Tem gato e rato na tuba" e trata do afastamento do então presidente da OMB, Wilson Sandoli, e da auditoria interna que está sendo realizada na Ordem. Para se ter idéia do tamanho do estrago, documentos indicam "a compra de carros blindados e armas, empréstimos pessoais e até despesas de velório. Tudo com recursos da OMB, ou seja, dos contribuintes músicos". 

Por outras palavras, quem deveria regulamentar a profissão é justamente quem tem, há anos, desviado recursos e realizado transações ilegais. Tudo em nome da classe? Quem já precisou tirar a carteira da OMB sabe muito bem do que estou falando. E quem teve seus equipamentos apreendidos, ou sua apresentação interrompida pelo Ecad, também.

Mas as acusações são lastimáveis. Durante dois anos Sandoli acumulou os cargos de presidente do Conselho Federal, da sucursal paulista da OMB e do Sindicato dos Músicos Profissionais "Em 2006, foi obrigado a renunciar à duplicidade de cargos na OMB e abdicou da presidência nacional em favor do vice à época, o ex-militar João Batista Vianna, da seção carioca da instituição. Foi Vianna que conduziu agora o afastamento de Sandoli da regional paulista por 90 dias, enquanto a auditoria esquadrinha o sexto andar do edifício da avenida Ipiranga onde está instalada a OMB, no centro da cidade". 

O clima é muito tenso. As fechaduras tiveram que ser trocadas para bloquear o acesso de Sandoli que não estaria cumprindo o acordo extrajudicial que o levou ao afastamento. Segundo Pedro A. Sanches, um dos advogados da OMB explica que numa auditoria realizada há alguns anos na seção paranaense culminou com o incêndio da documentação, daí a vigília redobrada.

Segundo Sandoli estão fazendo muito barulho por nada: "Disseram que eu mandei matar, o que é isso? Eu vou fazer uma coisa dessas? Tenho um nome a zelar", protesta Sandoli, de 80 anos. "Estão fazendo terrorismo", diz o advogado que o acompanha, Nelson Altieri. "Precisa colocar cinco seguranças? Aqui ninguém é bandido", prossegue o ex-presidente. "Isso tudo é uma armação do Vianna, o presidente que eu mesmo coloquei lá no Conselho Federal, com o Roberto Bueno, que quer tomar o meu lugar aqui."

Em São Paulo, o ex-vice presidente Roberto Bueno demonstra nervosismo, parece prensado entre os ambos os lados. "Vivo de música, não me chamo Wilson Sandoli", diz o maestro e dono de uma escola de música no Tatuapé. "Por que ele não fala comigo, se só me abraçava e beijava?", pergunta Sandoli, abraçando os próprios braços outra vez. "Então ele é um laranja?", dispara. Vice até outro dia, Bueno é outro que se diz "surpreso" com o teor dos documentos. E enumera acusações, algumas delas amplamente conhecidas nos bastidores da música brasileira.

As acusações são fortes e passam por desvios de dinheiro, armas e outras coisas mais. Bueno mostra, por exemplo, comprovantes de que em 11 de janeiro de 2005 a OMB de São Paulo pagou 195 mil reais à Minasmáquinas Automóveis, por uma Grand Caravan da Chrysler. Numa outra nota fiscal, de 26 de fevereiro, a Ordem gasta mais 80 mil reais, para blindar o automóvel.

Será que é preciso gastar 275 mil reais para compra de um automóvel? Quantos músicos não estão por aí, muitas vezes pegando condução com os instrumentos, para ganhar, com sorte, 30 ou 50 reais? Será que estes se vêm representados, vêm seus interesses profissionais defendidos por algum sindicato? 

Como se carros blindados não bastassem, Pedro A. Sanches nos mostra que a "seção paulista se revela cliente assídua da Massaropi Artigos de Caça e Pesca. Em 12 de abril de 1999, Sandoli comprou em nome dele próprio uma pistola Glock calibre 380, no valor de 2.150 reais. No mesmo dia, foram emitidas notas fiscais em nome de três outras pessoas físicas, pela aquisição de três pistolas Taurus calibre 380, por 1.300 reais cada. A compra total, de 6.050 reais, foi efetivada com um cheque da OMB paulista. Segundo Bueno, ninguém sabe do paradeiro de tais armas". E quem são essas três pessoas físicas? São funcionários? Afinal fazem segurança do quê? O que faz exatamente com essas armas? Segurança? De quem? Para quem? 

E como se não bastasse Sanches nos mostra que outros documentos evidenciam que Sandoli adotou o hábito de fazer empréstimos a ele mesmo. "Em 6 de outubro de 1999, por exemplo, o Conselho Federal emprestou 700 mil reais à regional paulista. "Não sei disso, para mim é novidade", diz o diretor afastado. No dia seguinte, o advogado liga para dizer que foi um "adiantamento pessoal". Em 23 de julho de 2003, a OMB emitiu um cheque nominal a Sandoli, no valor de 200 mil reais. Segundo o advogado, foi uma operação interna já contabilizada".

Segundo os ex-aliados Roberto Bueno e João Batista Vianna "a duplicidade de cargos nas duas casas foi a porta aberta para um sem-número de irregularidades praticadas de lá e de cá. Afirmam que a dívida da OMB paulista junto ao Conselho Federal é de 1,4 milhão de reais. Sandoli diz que já devolveu 300 mil reais".

E como se não bastasse todas essas irregularidades, também na venda da sede da OMB no Largo do Paissandu também foi envolta em mistérios e irregularidades. Um documento de 18 de maio de 2006 mostra que o negócio foi fechado por 300 mil reais. No entanto a Ordem fez publicar edital de convocação de assembléia geral do conselho, para autorizar a venda do imóvel. Mas isso aconteceu em 22 de junho, mais de um mês após a transação. 

E como se ainda não bastasse até funeral foi pago com o dinheiro dos músicos. "Segundo Bueno, em abril de 2005 a OMB paulista arcou com as despesas de funeral e enterro de Izabel, esposa de Sandoli, inclusive 69.714 reais gastos em anúncios fúnebres em jornais da capital". 

Podemos entender então que a situação da música e do músico no Brasil carrega essa mácula produzida por quase meio século de improbidade administrativa, descaso, corrupção. Mas e se depois da auditoria nada ficar provado? Sandoli arremata "Preciso voltar, para mostrar que o trabalho aqui foi...", interrompe-se. "Fui eleito. Se fui eleito...", decreta, por cima das acusações correntes sobre fraudes em sucessivos processos re-eleitorais. E eu pergunto, você músico em dia com a OMB votou em quem?

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