Ola amig@s internautas e amantes da música instrumental brasileira. Para aqueles que gostam de receber notícias sobre bandas pouco conhecidas ou até mesmo desaparecidas, aqui vai uma postagem sobre o "Grupo Quebra Pedra". Talvez pouca gente conheça o conjunto. Pude acompanhar uma apresentação realizada no Café Piu Piu, famoso estabelecimento musical localizado na R. Treze de Maio, 134. Era uma terça feira, dia 04 de fevereiro de 2003...
Foi durante um curso de Acústica que eu conheci Gustavo Faleiros e Alexandre. No primeiro dia de aula em que todos os alunos se apresentaram fiquei sabendo que eles tocavam num grupo chamado “Quebra Pedra”. Imediatamente fui conversar com eles e explicar meu trabalho. Rapidamente nos entendemos, afinal nos encontrávamos toda semana durante um semestre. Eu estava de sobreaviso: quando tivesse uma apresentação eles me chamariam. Foi o que aconteceu, encontrei o Gustavo, por acaso numa dessas sessões de cinema de São Paulo e ele me convidou com mais de um mês de antecedência: dia 4 no Piu Piu.
A casa é localizada no Bixiga e é uma das últimas casas que apresenta música instrumental no Bixiga. Fazia muito tempo que eu não entrava naquele lugar, bastante coisa havia mudado mas o essencial permanecia: o palco.
Cheguei mais cedo, depois de uma chuva forte, a apresentação estava marcada para as 22:00 hs. O pessoal do grupo já estava lá esperando os convidados, entrei e fui comprimentando Gustavo e Alexandre. Fui muito bem recebido e fiquei conversando com o pessoal até começarem a chegar outros convidados. Nesse início falamos sobre problemas técnicos de instrumento (principalmente a guitarra) e a questão do público que, por ser uma terça feira, não chegava.
O som só foi começar às 22:30 com um público de aproximadamente 50 pessoas. O “Quebra Pedra” é formado por Gustavo na Bateria, Alexandre na Guitarra, Douglas no contra baixo elétrico Fretless e Paulo nos sopros flauta, sax soprano e tenor. Um quarteto “clássico” de música instrumental brasileira. As categorias utilizadas nas conversas podem ser detectadas primeiro com os “rótulos” que são utilizados quando se está conversando: “música instrumental brasileira jazzística”. Nessa expressão se descobre o tipo de som e também a filiação, influência etc. O grupo tocou música brasileira e americana.
Os autores são: Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Ary Barroso, Moacyr Santos, e dos Norte americanos The Police, Jimy Hendrix e até uma melodia judaica tradicional. Além das música próprias da banda (ao todo 6 músicas) a maioria de autoria de Alexandre e duas de autoria de Paulo. No final da apresentação me disse Alexandre que ele acha importante tocar temas “standarts” porque o pessoal reconhece e pode apreciar melhor, já que as letras são conhecidas e as pessoas podem até cantar junto.
A apresentação foi iniciada com uma música de Hermeto Pascoal do Calendário do Som chamada “Trinta de Setembro” e em seguida tocaram “Maniac Depression” de Hendrix. O fato de trazer certo ecletismo no repertório trás um conforto ao ouvinte não só porque ele reconhece coisas que já ouviu mas também porque proporciona uma forma de demonstrar ao público abertura para outros gêneros.
As músicas eram tocadas em sua maioria com a forma clássica jazzista: tema – improvisos – tema – fim, com as devidas ressalvas. As convenções e pontes (bridges) são também muito utilizadas para conformar o mapa da música. Este caráter formal visto dessa maneira pode parecer relativamente simples, no entanto guarda diversidades enormes já que cada música é um arranjo diferente.
A performance de palco, postura etc, foi observada com ressalvas, já que algumas decissões eram tomadas ali mesmo na hora como se não houvessem discutido exatamente o que iriam fazer e tocar. Comentários surgem: “... mais parece um ensaio ao vivo”.
Os arranjos e composições são todos escritos em partitura que eram sempre utilizadas e lidas durante a execução principalmente pelo Paulo e Douglas. Claro que não se utiliza a partitura o tempo todo, não se lê a partitura o tempo todo, a impressão é que a partitura é uma espécie de lembrete, uma forma de “não se perder”, “não esquecer”. Interessante notar que não se inicia uma música se a partitura não estiver aberta na estante, mesmo que não se utiliza a leitura o tempo todo. Douglas sofreu um com um ventilador que sempre fazia voar sua partitura, no entanto nem por isso ele parava de tocar, continuava tocando às vezes fazia inclusive leituras com a partitura no chão mesmo.
Nessa apresentação percebe-se a especificidade de grupos de música instrumental que estão em um estágio, digamos, inicial da trajetória. A presença do grupo no mercado da música instrumental não se faz marcante [na verdade nem sei realmente se o conjunto continua existindo e ensaiando]. Não obstante a feroz corrida pelo espaço no mercado de serviços da música “ao vivo” o conjunto “Quebra Pedra” se mostrou no âmbito da pesquisa não como um caso a parte, uma espécie de exceção, mas como um modus operandi bastante comum nos conjuntos de música instrumental em São Paulo. E a despeito das particularidades que esse tipo de conjunto apresenta podemos lembrar que a quantidade de palcos existentes em São Paulo frente a quantidade de conjuntos, mostra uma face “cruel” do mercado da música ao vivo: a carência de espaço. Muitos conjuntos que possuem repertórios ensaiados e engajados não encontram o devido lugar no mercado, e me parece que não se trata exclusivamente de uma questão de qualidade. Salve “Quebra Pedra”, onde quer que vocês estejam...
Um comentário:
Giovanni. Fiquei feliz que alguém tenha mantido alguma memória, e ainda tão bem registrada do Quebra Pedra. O grupo infelizmente não existe mais. Abs Gustavo
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